quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Meu primeiro conto

IMPEACHMENT
Jerônimo de Almeida Neto

O último lance de escadas foi vencido por apenas três saltos. Uma vez na rua, pos-se a andar apressadamente em direção ao MASP.
-        Desculpe senhora. – disse Lupe ao esbarrar em uma mulher que, distraidamente cruzou sua frente enquanto atravessava a Brigadeiro.
-        Pra que tanta pressa? – Retrucou a dona.
Sem responder, misturou-se à multidão de jovens que, de cara pintada, fita no cabelo e bandeira na mão corria para o museu. Em sua mente apenas a pergunta: Angélica viria?
-        Ela virá, disse a si mesmo. Também, marcar um encontro desses por telefone...
-        Não posso pensar assim, ela virá.
Desviou os olhos para o prédio da FIESP. Corre muito dinheiro ai dentro, pensou.
Eram milhares de estudantes se acotovelando em frente ao museu. Os coordenadores gritavam palavras de ordem, que nem sempre eram ouvidas.
-        Impeachment quando?
Alguém surge no meio da multidão com um megafone e consegue por um pouco de ordem.
-        Impeachment quando?
-        Já...
Diante da multidão ele para, consulta o relógio e seu semblante muda. Ela deveria estar em frente à coluna da direita
-                 Isto, na coluna à direita do vão livre – Dissera ela ao telefone, mas os ponteiros já marcavam nove horas e ela ainda não chegara. Aconteceu alguma coisa, só pode ser isto, pensou, andando de um lado ao outro.
Consulta novamente o relógio e inicia um zigue-zague entre aquele sem fim de estudantes que já ocupava as duas pistas da Paulista.
-        Fora Collor quando?
-        Já, já, já...
- Usarei um vestido preto e uma fita no cabelo, dissera ela ao telefone, mas como reconhecê-la se encontraram-se uma vez, e tão pouco durara. Também, parecia que todas as garotas estavam de vestido preto e fita na cabeça...
- E agora? – O que faço? – Perguntou.
- O que houve meu jovem? – Perguntou um político, que mesmo não sendo convidado insistia em ser filmado entre os estudantes.
- Nada que possa interessar-lhe, respondeu afastando-se.
-                  E se ela estiver aqui e não lembrar da minha fisionomia? – Raciocinou.
Ainda mais pintado e com esta capa preta. Ela não me conhece tão bem assim, concluiu.
De repente gritou
-        Já sei!
Gritou tão alto que todos á sua volta perceberam.
-        Pirou. – observou alguém, mas ele, entusiasmado, começou a escrever na testa o próprio nome.
Feito isso, atravessou novamente a rua em direção à coluna da direita. Angélica abriu os braços e correu ao seu encontro. Trocaram um longo beijo e, depois, entre olhares trocados e sorrisos, acompanharam a multidão que começava a marcha para o Anhangabaú.
-        Impeachment!
-        Já!
-        Impeachment!
-        Já!
-        Impeachment!

-        Já!

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